Um dia com os trabalhadores do vinho de palma

Entre Milagrosa e Bombaim

Montanha acima de Bombaim

Grande cascata de Bombaim

Duração: o dia todo. Combinação carro + caminhada (nível fácil) com guia. Viagem de carro: cerca de trinta quilômetros no total da ida e volta. Caminhada a pé: cerca de 3 horas. 

O vinho de palma é a bebida alcoólica mais consumida em São Tomé e Príncipe desde vários séculos. É proveniente da fermentação da seiva da palmeira (Elaeis Guinensis, cujos frutos dão óleo de palma). Esta seiva é recolhida por incisão no topo da palmeira. No arquipélago, gostamos de vinho de palma pouco fermentado, portanto com baixo teor alcoólico (3 ° a 4 °), com sabor frutado; muito diferente do vinho de palma na maioria dos países da África continental, onde a seiva é fermentada por mais tempo, o que dá ao vinho um sabor um pouco agridoce. Mas o vinho doce de palma são-tomense deve ser consumido nas 24 horas seguintes à colheita, o que exige muita organização, que irá constatar durante esta excursão. 

O vinho de palma é produzido em toda a ilha de São Tomé, mas os conhecedores distinguem cuidadosamente os vinhos de cada área; os mais populares são os dos palmeirais que crescem entre Trindade e a orla da floresta de altitude do Obô. É no coração desta zona que o convidamos a acompanhar o trabalho dos chamados “vianteiros“, os homens que extraem vinho fresco de palma subindo com agilidade ao topo das palmeiras. 

Produzimos vinho de palma em Belém mesmo. Mas achamos que você pode estar interessado em seguir trabalhadores que operam palmeirais localizados em áreas mais remotas, nas profundezas da floresta: palmeirais em campos desbravados por agricultores a quem os vianteiros pagam taxa de exploração, ou palmeiras espalhadas na floresta nacional, portanto isentas de direitos, mas de acesso mais difícil, devendo os vianteiros por vezes abrir caminho com maxim (facão). 

A jornada de trabalho dos vianteiros começa bem cedo, geralmente antes do amanhecer. Sugerimos sair um pouco mais tarde do que eles, para se juntar a eles nos seus locais de trabalho.  

Saída em carro de Belém. Passamos por Trindade; depois, seguimos uma estrada asfaltada muito ruim, felizmente por apenas 2,5 km, até a entrada da roça Milagrosa. Continuamos por uma pista bastante boa na direção de Bombaim até o pequeno passo de Borraco (620 m. de altitude); depois, a pista torna-se mais difícil. Esta pista toda oferece uma paisagem magnífica, tanto pela majestade das árvores que a circundam, pela harmonia dos relevos que a dominam e pelo espetáculo das águas borbulhantes dos rios profundos que atravessa por pontes. 

 
 

Pararemos o carro para continuar a pé, quer no passo de Borraco, quer mais à frente na descida para Bombaim, dependendo da sua vontade de caminhar, do tempo e do estado da pista. 

Na chegada à Roça Bombaim, duas lindas cascatas; banho possível. A casa grande da Roça Bombaim é uma bonita construção da época colonial, toda em madeira, muita original pelo desenho. Restaurada na década de 1990, serviu de alojamento turístico; infelizmente, atualmente está fechada ao público, o prédio, mal conservado, necessitando de reparos que a crise pandêmica não permitiu. O mato agora invade o quintal, o pomar outrora famoso por seus frutos raros (nomeadamente mangostão) e as pastagens onde pastavam vacas brancas. Um olhar para a soberba fachada, sob o seu já degradado telhado, a fazer um pedido (voto ?) para que a roça encontre depressa um comprador decidido a investir … 

Da Roça Bombaim, subimos a pé, por uma trilha mais ou menos transitável, até Águas Belas. É um pequeno povoado cuja população vive principalmente da extração do vinho de palma, e também da criação de porcos (em cooperativa). De Águas Belas, continuamos a pé no meio da floresta até Zanpalma, uma antiga roça colonial abandonada, cujas ruínas foram invadidas pela vegetação. Mais uma cascata, muito bonita, em Zanpalma. 

Talvez você tenha a chance de ver, voando ao nível das árvores mais altas, alguns pares de periquitos, de cores brilhantes; espécie muito procurada pelo tráfico internacional de aves silvestres, mas para a qual a floresta de Zanpalma permanece um refúgio. 

Os vianteiros trabalham na área. Você os encontrará no ponto que terão marcado com o seu guia (Arcádio ou Dálio). Você poderá observar seu trabalho; e obter todas as explicações que desejar. Degustação de vinho logo depois da extração. Em Águas Belas, você poderá comparar os vinhos de diferentes produtores. No meio do mato, ou em uma plantação, você ajudará nos preparativos do almoço: grelhados a lenha, banana frita ou fruta-pão. Em caso de chuva (sempre possível, principalmente nessa área), pode se refugiar e tomar a refeição numa casinha em Águas Belas, de propriedade de um irmão de Arcádio, vianteiro que trabalha lá. 

Após o almoço, retorno ao carro. No caminho, você terá a oportunidade de observar o trânsito dos transportadores (carrinhas, camiões, motocicletas carregadas de bidões) que vêm buscar o vinho de palma desde o início da tarde: deve mesmo ser encaminhado até a cidade (Trindade ou Cidade Capital), onde as revendedoras vão poder vendê-lo à noite aos seus clientes. 

Com o carro, iremos visitar a Roça Abade, localizada abaixo de Bombaim. Enquanto a Roça Bombaim, durante a privatização das roças nacionalizadas (privatização entre 1990 e 1995), tinha sido atribuída a um comprador da cidade que a mandou cultivar pelos ex-trabalhadores agrícolas, a Roça Abade foi, por sua vez, partilhada em pequenos lotes atribuídos aos trabalhadores da plantação. Ao contrário de Bombaim, não foi posteriormente abandonada por seus habitantes; continuam a cultivar cacau, apesar das flutuações nos preços de exportação; eles também vivem da exploração madeireira e diversificaram as suas atividades agrícolas – nomeadamente a criação de peru (aves pouco encontradas em São Tomé). Você terá a oportunidade de passar alguns momentos numa roça típica da zona montanhosa, dinâmica apesar do seu isolamento. 

Regresso a Belém à noite. 

Preço: 42 euros para toda a excursão + 9 euros por pessoa para refeição em Águas Belas, bebida e prova de vinho de palma incluídas. 

Segunda Cascata de Bombaim

Roça Bombaim

Vianteiro

À 20 metros do chão

O sangramento da palmeira

Roça Abade

Beba seu vinho de palma à beira da estrada

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