Estrada do sul, um pico
Foz do Io Grande
Pico do Cão Grande e palmeiral
Dia de praia, pequena caminhada e gastronomia: o Pico do Cão Grande, a cascata da Praia Pesqueira e o restaurante da Pensão Mionga
Duração: o dia todo. Percurso de carro: cerca de 1h 20 – 1h 1/2 para ir à Ribeira Peixe (sem contar as paragens no caminho), tanto para o regresso. A caminhada da Praia Pesqueira: cerca de 50 minutos.
Partida de carro, chega-se à chamada “estrada do Sul” (EN2). Em Água Izé, possibilidade de dar um olhar à Boca do Inferno, caso esta visita não tenha sido contemplada num outro passeio. A partir de Água Izé, a estrada oferece um percurso extremamente sinuoso, com uma sucessão de vistas deslumbrantes sobre as encostas cobertas por uma vegetação exuberante caindo abruptamente no mar. Mas cuidado com as náuseas, a que muitas vezes as crianças estão sujeitas viajando de carro: recomenda-se uma condução suave e paradas frequentes, que também permitirão admirar a paisagem. A 47 km de Belém, chegamos a São João dos Angolares, capital do distrito de Caué, porto piscatório e pequena vila colorida nas encostas da baía de Santa Cruz. Além, ultrapassamos um pequeno desfiladeiro e descemos para o vale de Io Grande.
O Io Grande (“Io” é a forma de dialeto crioulo por “Rio”) é o principal curso de água da ilha. Embora o seu curso não seja muito longo, apresenta, mesmo nas épocas de águas baixas, aspeto de um verdadeiro rio (enquanto muitos dos rios da ilha são apenas simples torrentes), e as suas cheias são formidáveis. De fato, desce de montanhas expostas aos ventos alísios equatoriais carregados de umidade, onde a precipitação anual atinge níveis de 6 a 8 metros (10 vezes mais que em Lisboa, tanto quanto nas encostas mais chuvosas do Himalaia). Quando o rio chega à estrada nacional entre S. João dos Angolares e Ribeira Peixe, a corrente já se acalmou; o rio serpenteia calmamente por pouco menos de dois quilômetros e, ao chegar ao mar, se alarga em uma pequena lagoa cercada por uma vegetação densa e escura. Para fazer uma visita a esta foz, deixamos por um momento a estrada nacional, e tomamos uma pequena estrada calcetada que corre ao longo do rio cujas águas calmas se avistam entre as árvores e os bambus. Chegada à aldeia de Praia Io Grande: uma pequena comunidade de pescadores angolares muito pobres, nas suas cabanas de madeira, acolhimento sorridente.
Depois de atravessar a aldeia, chega-se a uma longa praia de areia preta, formando uma barra entre o curso do rio e o mar; de um lado, rolinhos próprios para o surf; do outro, a água doce do rio onde as crianças da aldeia se banham ou pescam os peixinhos enquanto as mulheres lavam as suas roupas coloridas.
De volta à estrada nacional, tomamos a ponte que cruza o rio, outra subida (miradouro da roça Dona Augusta), descida para a Ribeira Peixe, início das plantações de palmeiras de óleo. Ao sair de uma curva, vista espetacular sobre o Pico do Cão Grande: espantosa concreção basáltica subindo de um jato a 667 metros acima do nível do mar, no meio da planície costeira coberta por um verdadeiro mar ondulado de palmeiras.
Depois de admirar o Pico, voltamos um pouco por atras para visitar a antiga Roça Ribeira Peixe: a população, pescadores e empregados da empresa de fabricação de óleo de palme, vive nas suas casas humildes entre as ruínas majestosas dos antigos edifícios coloniais, especialmente um grande hospital.
Depois, deixamos o veículo estacionado à beira da estrada, à entrada da pista que dá acesso à Praia Pesqueira.
O caminho leva, em 5 a 7 minutos, à aldeia da Praia Pesqueira. Na aldeia, uma placa indica o trilho estreito que leva ao pé da cascata (chamada Cascata Miomba). Neste ponto, o Rio Martim Mendes, a menos de 200 metros da sua foz, atravessa um limiar de rochas vulcânicas muito resistentes, formando uma barragem natural que não conseguiu erodir; a barragem rochosa é muito larga, a água do rio, dividida em vários pequenos braços, cai cerca de quinze metros numa bela piscina natural, que termina na beira do mar. Pode-se também, pedindo às crianças da aldeia, ser guiado por outro pequeno caminho, no alto da cascata; nenhum ponto de vista sobre a queda, exceto aproximando-se perigosamente da caída, caminhando nas águas do rio (não se deixe levar pela correnteza), mas uma visão idílica sobre uma pequena lagoa, arvores majestosas, e lavandeiras batendo com energia a roupa nas pedras da orla.
Regresso ao caminho principal que atravessa a aldeia. No final dela (sinalização), sai-se acima da praia Pesqueira, frequentada por pescadores, onde é possível desfrutar de um agradável banho de mar. O percurso continua através da plantação industrial de palmeiras, propriedade da empresa Agripalma (sediada em Ribeira Peixe). Os tratores que transportam a colheita escavam sulcos no caminho, que se enchem de lama após as chuvas. Depois de uma curta subida, você atravessa um lugar pantanoso onde tem que escolher onde colocar os pés para não afundar muito; é bom prever usar calçados adequados (botas, ou sandálias ou chinelas que se pode lavar um pouco mais à frente, na praia; evitar sapatos de lona). Ao sair desta passagem, descemos na direção de um pequeno riacho. Á direita, o caminho leva a uma praia muito agradável, marcada nos mapas como Praia Azeituna, mas chamada pelos locais de Praia Muteca, em homenagem, dizem, a um trabalhador deportado de Moçambique e fugido de uma roça, que vivia sozinho há muito tempo nesta praia e lá morreu sem ter podido regressar ao seu país – pelo menos morreu livre, ao contrário de tantos dos seus companheiros arrancados do continente para vir trabalhar até à morte nos cacauzais! Esta praia sombreada estende-se entre o mar com os seus fortes rolos e um remanso que mais parece um mangal em miniatura formado pelo riacho que vem da montanha.
A partir da Praia Muteca, refaça os seus passos durante cerca de 150 metros, toma depois o caminho que segue o rio à beira do palmeiral e sobe em direção à estrada nacional. Chega-se nela 350 metros a montante do ponto de partida da caminhada, onde encontrará o seu veículo.
Regresso em automóvel até São João dos Angolares; almoço no restaurante gourmet da Pensão Mionga: um pequeno estabelecimento com vista para o mar, com um cenário requintado (o jardim, com os seus grandes blocos de rocha vulcânica, o edifício de pedra esculpida e madeira pintada). O proprietário é ao mesmo tempo escultor e pintor, algumas das suas obras estão aí expostas. Menu por 10 euros: três entradas fartas, prato principal generoso e sobremesa. O peixe vem direto da praia dos pescadores abaixo da pensão, frescor garantido. Após o almoço, se pretende renovar o banho matinal na Praia Pesqueira ou na Praia Muteca, possibilidade de nadar nas águas do rio (acesso direto desde o jardim da Pensão Mionga), ou, mais além, no mar (rolinhos).
Antes de regressar ao final da tarde, uma olhadela à Roça São João, sede de mais um restaurante gastronómico (de sofisticação gastronómica, e de preço, claramente superiores ao da Pensão Mionga), que alberga uma encantadora residência hoteleira artisticamente decorada, com muitos Móveis de estilo “Art Déco” que datam do apogeu da cultura do cacau na roça.
Chegada a Belém à noite.
Custo da excursão: com guia e viatura: 30 euros de remuneração do guia + 0,36 euros por quilómetro de viatura (portanto, cerca de 46 euros); total de 76 E.
Por veículo alugado, desacompanhado: aluguel de 35 euros na agência + combustível, aproximadamente 14 euros = 49 E.
Refeição na Pensão Mionga: 10 euros / pessoa, sem as bebidas.